quinta-feira, 12 de junho de 2008

1968: O Ano Que Não Terminou. Zuenir ventura - resenha


Quem sabe faz a hora
A imprensa não esperava que aquela festa da casa da Helô, rito de passagem para 68, fosse traduzir com tanta nitidez a essência da revolução ocorrida naquele ano.O livro de Zuenir Ventura descreve, com riqueza de detalhes, fatos que marcaram um ano conturbado, que funcionou como um grito de liberdade após quatro anos antiquados e engavetados no contexto brasileiro. A passeata dos 100 mil mobilizou a massa popular fazendo com que o governo acreditasse que não era somente o romantismo e utopia jovem que ia encabeçar um luta contra a repressão do estado. Zuenir vai além. Mostra o funcionalismo do PCB que ajuda o leitor a perceber qual era a carta na manga do partido e outras organizações para instigar a opinião pública e fazer com que o povo fosse às ruas. As mulheres em geral, não só as feministas, também arregaçaram as mangas e quebraram tabus. Essa tal revolução sexual dava nova forma a mente feminina. Elas passaram a se sentir mais à vontade com o corpo a ponto de começarem a usar pílulas e adotarem a nudez, o divórcio e a idéia de não ter que dar à luz uma criança indesejada. Mais um boom de tendências comportamentais e culturais.A revolta e ódio pelo assassinato do estudante Edson Luís, batalhas campais corpo a corpo na conhecida “sexta –feira sangrenta”, deixavam claro o comprometimento e fervor a defender ideais em torno de movimentos arbitrários da mobilização popular. As esquerdas também se confrontavam como se quem ganhasse já fosse bater em um grande cachorro morto chamado capitalismo, assim vê-se o tamanho dessa dimensão à tendência revolucionária e reformista que tomava o Brasil. Foi a proporção que vinha tomando a revolução que levou o governo a uma atitude radical e desesperada: o ato institucional 5, que perseguia opositores do regime e deixava a imprensa e outras mídias sob forte censura. O ano não terminou, segundo Zuenir, que viu e participou ativamente dos acontecimentos, pois no tempo em que os sonhos começavam a se realizar e até as utopias deixavam de ser utopias um ponto final foi colocado cedo demais. “A violência, que o marechal Costa e Silva confessou ter sentido ao editar o AI-5, ia deixar de ser uma figura de retórica. A partir do dia 13 de dezembro de 1968, ela se abateria de fato sobre a alma e corpo de toda uma geração”.

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